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terça-feira, abril 25, 2006

Alfabetização e letramento tecnológico em debate

Certas operações que realizamos, como fazer contas e escrever, são processos naturais que vêm com a repetição e com a evolução cognitiva, e essa repetição e memorização pode vir tanto decorando uma tabuada ou usando uma calculadora, no caso de fazer contas. Historicamente sempre fizemos isso. Alguns anos atrás eu não conseguia escrever diretamente na tela do computador, escrevia a mão primeiro e depois transcrevia para a tela. Hoje eu quase não escrevo a lápis ou caneta, objetos usados apenas para anotações. Fiz faculdade nos anos 1970 e usávamos réguas de cálculo, calculadoras Facit (ainda existem alguns exemplares em uso em velhas lojas de auto-peças na Av. Pedro II), e cartões perfurados em Fortran. Não existe tecnologia natural, elas são todas artificiais, mas vão se "naturalizando" à medida que aculturamos o processo e nos apropriamos da tecnologia. Foi assim com o automóvel, cuja indústria foi implantada no Brasil por JK, final dos anos 1950, início dos anos 1960. Ainda me lembro da dificuldade de circulação de automóveis, principalmente em cidades pequenas, porque a população ainda pensava em carroças e se assustava com esses engenhos. Acho que existem dois processos diferentes: um de apropriação da tecnologia ou alfabetização tecnológica (difusão de uso das mesmas) e outro de aculturação do cidadão às tecnologias ou letramento tecnológico, que seria esse processo de "naturalização". Nesse sentido, o celular, por exemplo, se encontra no primeiro processo (de apropriação ou alfabetização), ainda não chegou ao segundo (de aculturação ou letramento). Todos esses processos esbarram, evidentemente, na educação. Recentemente os caixas 24 horas pediam, após a senha, que o cidadão digitasse seu ano de nascimento com quatro dígitos. Vimos muita gente com olhar perdido frente a máquina, pois não sabia o significado da palavra "dígitos". Claro que o procedimento foi trocado devido absoluta falta de educação do usuário. Qualquer programa de popularização de ciência e tecnologia (o cidadão comum não se interessa muito por ciência -veja Bruno Latour - mas se intereressa enormemente por tecnologia) deve passar obrigatoriamente pela educação, escolaridade, essas coisas que os governos são obrigados a fornecer ao cidadão, mas não cumprem adequadamente. É aí que o bicho pega e o buraco é mais em baixo (ou mais em cima, já nem sei mais).

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