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sexta-feira, agosto 03, 2012

Megatendências e o Futuro do Setor de Energia na América Latina



Por Breno Wottrich  (http://www.jornaldaenergia.com.br/)
Há alguns anos, com base em uma tendência global, a Frost & Sullivan iniciou um movimento para alavancar sua ampla estrutura de pesquisa e expertise de analistas e consultores, construindo assim a base de um novo e audacioso programa: “Mega Trends 2020 – Principais megatendências que irão influenciar e direcionar o mundo nos próximos anos”. Esta mobilização internacional chegou à América Latina no final de 2011, culminando no evento GIL – Growth, Innovation, and Leadership – onde diversos executivos dos mais diversos setores participaram de intensos debates sobre tendências e oportunidades na América Latina para as próximas décadas.
Tomando carona no dia de discussões, apresentamos na ocasião o relatório de megatendências do setor de energia para a América Latina. Especialmente quatro perspectivas foram englobadas: Desenvolvimento de InfraestruturaRecursos Naturais,Renováveis, e Tecnologias Inteligentes. Muitos destes temas já foram – e ainda serão – fontes de conteúdo neste blog. Assim me prendo aqui à primeira megatendência: desenvolvimento de infraestrutura em geração de energia e em interconexão energética.
Passando a 141 GW de potência instalada em 2020 e com a necessidade de investimentos de mais de 110 bilhões de dólares em aumento de capacidade de geração no período, o Brasil ainda será o maior celeiro de oportunidades, com a previsão de instalação de 29 GW até o final desta década. O México vem logo atrás, com um crescimento de 23% e agregação de 14 GW ao seu sistema. Os demais países na América Latina totalizam os 19 GW em capacidade adicionada restantes. Ainda que com um potencial muito reduzido se comparado aos dois principais centros de investimentos, merece destaque o Chile, que através de amplas reformas implementadas nas últimas décadas prevê quase dobrar sua capacidade instalada – é esperado um crescimento de 86% sobre seus atuais 13GW.
Embora em momentos institucionais muito divergentes, os países da região ainda centrarão seus esforços em grandes hidrelétricas, usinas termelétricas, e, com políticas agressivas de incentivos, na energia eólica. Especial atenção também será dada a possíveis impactos políticos de decisões em planejamento energético na América Latina. Ainda é incerto se os governos suportarão pressões ambientais e sociais sobre grande reservatórios e geração termelétrica à carvão e combustível nuclear. Também, é cedo para estimar a real sustentabilidade industrial do movimento de energia eólica que muitos países vem adotando. Por fim, o destino contratual de gás natural encontra concorrentes na instabilidade política da região e no próprio Pré-Sal, através da tecnologia gas lift para exploração offshore.
Também ligado a desenvolvimentos em infraestrutura, tendo cada vez mais usinas de geração de base distantes dos grandes centros de consumo, e com o aumento da maturidade do ambiente político na América Latina visando a segurança e complementaridade entre regiões, linhas de transmissão em corrente contínua (HVDC –High Voltage Direct Current) serão uma constante até 2030, movimentando em torno de 15 bilhões de dólares durante 20 anos em uma estimativa conservadora. Neste contexto, hoje já é possível observar, ainda que de forma tímida, o fluxo de elétrons e núcleos institucionais de interconexão entre países (CECACIER, CIER, SIEPAC, e CFE-ERCOT). Também, alguns projetos já começam a sair do papel, como a interconexão Brasil-Uruguai em 500kV.
Em escala regional, certamente será imperativa a liderança ativa do Brasil, por meio da Eletrobras, em acordos estratégicos bilaterais, como estímulo à tecnologia HVDC e ao livre intercâmbio de potência.  Não se esquecendo, claro, que os interesses nacionais, lastreados por regimes políticos instáveis, ocasionam seguidamente a competição entre países para atração de investimentos, bem como levam a uma visão focada em soberania e segurança energética. Contratos bilaterias seguidamente foram rompidos no passado (vide conexão Brasil-Argentina no projeto CIEN). Esse se constitui, então, no principal desafio a ser vencido em relações comerciais de longo prazo na América Latina.