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terça-feira, janeiro 10, 2012

AINDA SOBRE A TEORIA DOS HUMORES


O equilíbrio das substâncias constitui-se num dos primeiros procedimentos médicos efetuado por gregos, árabes e brâmanes. Esses primórdios médicos e filosóficos atribuíam a certos sucos ingeridos ou produzidos pelo corpo o poder de provocar emoções. Erasmus Darwin, avô do Charles, aquele da Evolução, tão certo estava da teoria dos humores que inventou uma cadeira giratória a grande velocidade para expulsar dos cérebros deprimidos os maus humores, por centrifugação. 

TEMPERAMENTO



A história da palavra "temperamento" tem conotação biológica, mesmo advindo do tempo em que a biologia não existia como a conhecemos hoje. "Temperamento" vem de "tempero", "temperar". Hipócrates, há 2500 anos, declarava que o funcionamento de um organismo se explicava pela mistura, em proporções variáveis, de quatro grandes humores: sangue, linfa, biles amarela e biles negra, um "temperando" o outro. Essa visão foi tão bem sucedida que impediu o avanço de outras concepções sobre o funcionamento da "máquina" humana. Todo fenômeno estranho, todo sofrimento físico ou mental, se explicava por um desequilíbrio dessas quatro substâncias no organismo humano. E concepções parecidas a essa, dos humores, foi usada também para explicação de fenômenos do mundo físico, como a teoria do calórico para explicar trocas de calor entre corpos diferentes, e mesmo a da corrente elétrica, como fluidos circulando no interior dos fios condutores de eletricidade. Não se trata mais de "temperamento" dos objetos, mas de migração conceitual em função do sucesso da teoria dos humores.

(A partir da leitura de: CYRULNIK, Boris. Os Patinhos Feios, Martins Fontes Editora, São Paulo, 2004).